segunda-feira, 4 de junho de 2007

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA (PETISTA)

Marco Aurélio Garcia, o assessor especial de Lula, não vê nenhum atentado à liberdade de imprensa na Venezuela. Não é de admirar. Apesar das lentes grossas que o fazem parecido com Sigmund Freud – não ofendamos mais o pai da psicanálise – Garcia não enxerga um palmo à frente do nariz. E é uma cegueira voluntária. Em reportagem ao Jornal da Tarde, no início do ano, o assessor especial afirmou que esperava ver construída uma “democracia popular” no país. O que significa isso? Não, turminha ‘dazesquerda’, não é comunismo, fase superior do socialismo, mas apenas um “capitalismo reformado com um horizonte socialista”. Ou seja, o PT em sua fase tupinambá, não passa de um partido decorador de interiores.
Mas pouco importa a estupidez teórica que grassa no petismo e que, já se provou, tornou-se incorrigível. O que interessa aqui é decifrar o que os ‘ideólogos’ do partido – sim, Garcia, é um dos iluminados – pensam e como esse pensamento flerta com a categoria de autoritarismo que os venezuelanos viram e, fosse pelo PT, os brasileiros veriam também.
Algumas declarações de Garcia para ilustrar:

“Não julgamos que tenha sido violada nenhuma regra democrática. Andei não poucas vezes pela Venezuela. Em raros países eu vi a imprensa falar com tanta liberdade quanto na Venezuela. Todas as vezes que estive lá, vi a imprensa falar cobras e lagartos do governo”.

Basta. É o que importa aqui. Enxergar pelos olhos míopes de Garcia, o sargento ideológico de Lula, o que significa liberdade de imprensa.

Retornemos um pouco no tempo para o pós-eleição de 2006. Nunca é demais lembrar que nos quatro primeiros anos do governo petista, Garcia foi um dos “gênios do mal” encarregados de conceber o controle da imprensa no país. Foi da sua cabeça privilegiada, por exemplo, que gestou-se um Conselho Federal de Jornalismo, cuja principal atividade seria criar “mordaças” à liberdade de imprensa. Sorte, não pegou. Mas Garcia não desiste. Confira o que disse em entrevista ao jornalista afagável Kennedy Alencar, na Folha de S. Paulo:

Folha - Mas quando o sr. disse "cuidem de suas redações que nós cuidamos do PT", o sr. estava irritado?
Garcia - Não me lembro estritamente do contexto, mas naquele momento havia uma cobrança sobre determinados aspectos da vida interna do PT, que eu achava que podiam se aplicar à vida interna das redações. Foi um comentário lateral, que, se for o caso, eu retiro. Agora, quem ficou muito irritada foi a imprensa quando eu disse que ela deveria fazer uma reflexão.

Folha - O que é "democratizar a mídia"? O sr. pode traduzir?
Garcia - É ter uma imprensa menos monocórdia. Eu acho que alguns problemas vão se resolver da forma que a imprensa acha que se resolve, através do mercado. Uma parte da imprensa hoje perdeu enormemente a credibilidade. Ela se posicionou fortemente contra a candidatura Lula e foi derrotada nessa eleição. Se você ouvir determinadas rádios, vê três ou quatro comentaristas que se seguem, batendo sempre na mesma tecla. Me diga algum comentarista, ao não ser um ex do seu jornal, o [Luís] Nassif, que hoje tenha uma posição diferente. O Vinicius [Torres Freire, colunista da Folha], talvez. Nem sempre ele está nessa linha, o Vinicius é uma pessoa mais independente. Mas a imensa maioria dos comentaristas de economia vem da mesma malta.

Folha - Deve haver mudança no critério para distribuição de verbas oficiais de publicidade?
Garcia - Deve haver um critério amplo. Confesso que fico espantado quando vejo revistas, que se transformaram em órgãos de difamação política, entupidos de propaganda oficial. As revistas deveriam refletir sobre isso."


Não vou me alongar mais. Não é preciso ler nas entrelinhas para repetir aquele aforismo de Roberto Pompeu de Toledo ao tomar conhecimento das propostas de governo da presidenciável Heloísa Helena (PSOL), no ano passado: “O mundo que a senhora imagina eu não quero viver”.

No mundo que Garcia imagina, eu também não. Não se engane. Quando ele diz ‘imprensa monocórdia’ quer dizer mais cordata. Quando ele diz ‘estado mais forte’ quer dizer menos economia de mercado. Quando ele diz ‘critério amplo’ na distribuição de verbas oficiais de publicidade, quer dizer ‘censura prévia’ a quem não rezar segundo a cartilha lulista.

Se o paranaense já percebeu, Garcia é um clone de Benedito, o Pires, o secretário especial de Imprensa de Requião. A diferença é geográfica. Garcia opera no andar de cima. Benedito nas hostes paroquianas. Os dois, no entanto, se merecem.

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