DALTON, 82, UMA INTROMISSÃO
O jornal "Rascunho", onde reina uma plêiade de críticos que mastigam clichês e obviedades literárias - diria-se antalógicas - publicou entrevista com um tal que jura que sorveu declarações inconfessáveis de Dalton Trevisan e Jamil Snege (finadaço) junto com o cafezinho na esquina. Dalton (vivaço), 82 anos neste 14 de junho, pregou fumo. Distribuiu panfleto chamando o tal de "hiena papuda", violador de cemitérios. Este escriba, testemunha ocular do crime, anotou tudo, misturou, chacoalhou fatos e publicou tudo na passagem dos 81 ais de Dalton. E não é que vem bem a calhar? Reproduzo abaixo:
TOMOU, PAPUDA
Dalton Trevisan completa hoje 81 anos e está longe de expiar seus pecados. Ei, hiena papuda necrófila! Foi ao café da esquina desavisado uma, duas, três vezes e caiu em conto de vigário pedófilo. Alguém, um escritor, um sujeitinho qualquer, surrupiou-lhe a confiança e resolveu vender por trinta dinheiros o relato de sua “experiência com o autor”. Traveca de araponga louca da meia-noite.
Avesso a entrevistas, avesso a qualquer coisa que lhe toque o banjo da vida, Dalton refugou outras tentativas para lhe destravarem a língua. De Nelsinho já se sabe, só quer lamber carótidas. Mente na vírgula mente no pingo do i.
Uma delas, lá na década de 70, confrontado com repórter enviado pela finada “Status”, onde Dalton havia vencido concurso de contos eróticos e transposto o limiar da literatura para o cinema. Mente no bico fechado mente na carta aberta.
Rastejante, seboso, putrefato ao pôr-do-sol, travou conversa com o escritor. Primeiro na banca de jornal no acaso forçado. Dalton deitou elogios a um livro de bolso dos “Contos de Tcheckov”, edição 1975, e o jornalista anotou. De lá para o cafezinho foi um passo. De novo, ele anotou. Chorrilho merdoso de intrigas e falsidades.
De volta a São Paulo, triunfante, o repórter tratou de erguer no patamar do “furo” o que não se venderia na lata de lixo da história por dez réis de mel coado. Caráter sem jaça de escorpião. Na edição seguinte, o escritor mandou linha curta ao editor: “Barata leprosa de Kafka”. Filho adotivo espiritual de Caim.
Trinta anos depois eis Dalton, que é antes de tudo um frestador da vida alheia (quem não é?), preso novamente na arapuca do shylock avarento, delator premiado informa dedura. Poucos encontros, duas ou três confidências e olha o escritor-facínora a esfregar a mão que é garra, a mão que é presa, para transformar em brochura o que era inocente convescote verbal. Fora, traidor do amigo! Rua, olheiro maldito!
No fim de semana, reunido com editora e outras aves de rapina, vendeu a idéia que é vil punhalada nas costas. No teu coração pesteado rondam os lobos da inveja. Uivam os chacais da infâmia. É escritor que nada, é rábula. Judas de trinta lentilhas. É canalha menor rastejando nos esgotos. Rato pior. Mamou, refestelou-se e pôs à venda a mãe.

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