terça-feira, 29 de maio de 2007

A CIRANDA LULISTA

A coluna Toda Política desta terça-feira no JE.

Não se deve levar a sério a afirmação de Lula de que o presidente do Senado, Renan Calheiros, quarto homem da República, é inocente até prova em contrário. Se o brasileiro não se lembra, este é o presidente que, há menos de dois anos, afirmou que assinaria em branco um cheque para Roberto Jefferson – hoje devidamente defenestrado.
Essa, aliás, é uma ciranda impregnada no governo Lula desde que Waldomiro Diniz foi pego com Carlinhos Cachoeira na boca da botija (e esta não é uma expressão gratuita) negociando percentuais em causa própria. Primeiro se negaceia, depois abandona-se à própria sorte para que o escândalo não espirre em escalões superiores.
Mês sim, outro mês também, um homem público cai enredado em uma picaretagem e se vale das frestas da lei e da solidariedade de seus pares para sair de fininho com a “cauda” intacta. Ciranda, cirandinha.
Ontem foi a vez de Calheiros, ex-homem-forte do governo Collor, fazer discurso desmentindo denúncias e acusando invasão de privacidade em caso escabroso de pagamento de suas contas pessoais pelo lobista da Mendes Júnior, Cláudio Gontijo.
Foi fácil engolir o relacionamento extra-conjugal do senador com uma jornalista e o que ele produziu – um filho. Difícil foi empurrar goela abaixo dos espectadores a versão de que era Gontijo sim quem pagava, mas com o dinheiro de Calheiros. E por notória amizade. Ciranda, cirandinha.
Em que pesem as lacunas deixadas, Calheiros e Silas Rondeau (o ministro caído) foram devidamente preservados por Lula no programa de rádio “Conversa com o presidente” naquela lenga-lenga do inocente presumido. Melhor seria se Lula não falasse nada ou se declarasse incompetente no caso, como fazem os juízes. Soaria mais bonitinho e certamente menos ordinário. Ciranda, cirandinha.
De mais a mais, há um triste retrospecto de escândalos amontoados no governo Lula, que não são produto das trombetas oposicionistas como se insiste em afirmar, mas de investigação meticulosa da Polícia Federal, secundada pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário. Trata-se, portanto, de denúncia de lastro. Se tantos bagres vêm caindo na rede é porque há mesmo algo de podre no reino. E não é o da Dinamarca.

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